domingo, 21 de fevereiro de 2016

Duas em Um


Cheguei na casa da Paula às oito da noite, era aniversário de namoro e eu queria levá-la num lugar bacana, nada muito formal, mas que tivesse um pouco de classe. Esperei no carro uns quarenta minutos, deu pra ouvir um cd inteiro e fazer umas duas ligações. Uns amigos estavam num barzinho mais badalado, me atentando pra dar o cano e me jogar pra lá. Tentação, foda. Ela desceu, gostei do resultado, a filha da puta estava muito gostosa. Entrou no carro, nos beijamos e dei partida.

Nada demais, nada de menos, restaurante contemporâneo, bem frequentando, só pra dar um clima. O cardápio chegou, escolhemos os pratos, rolou um vinho. Conversamos, rimos, esfregamos nossas pernas por baixo da mesa, climão irado. Ela levantou, foi ao banheiro e voltou cinco minutos depois. Mais vinhos, mais assuntos, presentinhos, mais carícias por baixo da mesa e fechamos a conta. Uma facada, mas a ocasião permitia.

Restaurante maneiro, vinho maneiro, motel maneiro, a moça da cabine atendeu muito bem e até sorriu, entramos. Suíte presidencial com piscina, cascata, trampolim, pula-pula, quase um parque de diversões, como se eu precisasse de metade disso pra desejá-la. Climão de novo, beijos, carícias, roupas no chão, banheira ligada, mais carícias, e… cara fechada com lágrimas. Paula começou a chorar como se recebesse a notícia da morte dos pais naquele exato momento.
– Amor? O que foi?
– Nada.
– Como assim, nada? Por que você ta chorando?
– Por nada, droga.
– Juro que não to entendendo.
– É, você nunca entende, é sempre assim.
– Foi alguma coisa que eu falei? Juro pra você que não faço nem ideia do que seja.

Mais um litro de lágrimas caiu.

– É sempre assim, você nunca sabe e nunca se importa pro que eu penso. To cansada disso, acho que você não me ama mais. É isso, você não me ama e fica empurrando nossa relação com a barriga. Como eu posso ter certeza de alguma coisa com você se não me sinto segura, não me sinto amada? É sempre você, você, você. Por isso que nada do que fazemos vale a pena.

– Amor, você está sendo injusta. Claro que eu me preocupo, claro que eu te amo. De onde você tirou isso?

Nunca brochei tanto na minha vida.

– Eu quero ir pra casa.
– O quê? Você ta falando sério?
– To, me leva embora agora.

Não falei nada durante todo o percurso até a casa dela. Encostei o carro e destravei as portas.

– Você ta me mandando embora?
– Ué, você não disse que queria ir pra casa?
– Mas você nem me deu um beijo e já destravou a porta.
– Achei que você quisesse ir pra casa.
– É, queria, mas não precisava dessa grosseria.
– Meus Deus, Paula. Você ta doida.

Mais algumas lágrimas, porta batida, e meu nome sendo usado com um palavrão.

Fiquei puto. Fiz tudo, tudo e mais um pouco e olha como acaba a porra da minha noite. Tirei o celular do bolso e retornei pro último telefonema que recebi, o Cabeça atendeu.

– Onde vocês estão?
– Na esquina da faculdade.
– Como ta aí?
-Só falta você, meu chapa.

Liguei o carro, cheguei em 10 minutos. Tinha umas garotas, não conhecia, mas riram. Ninguém perguntou nada, talvez por que a palavra “decepção” tava estampada na minha testa. Comecei com uma cerveja, parti pra uma caipirinha, peguei o taco de sinuca, conversei com a morena que me deu um “oi” bastante simpático. Conversa vai, conversa vem. O tempo voou. Ela usava um perfume que parecia não querer sair do meu nariz. Demais. E a única coisa que eu me recordo era de receber o sorriso da atendente do motel mais uma vez. Foi quando olhei para o lado, a morena colocou a mão no meu ombro e falou:
– Vamos, vai valer a pena.

E valeu.

Fonte: machonaochora.wordpress,com

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